Análise online funciona?

Por: Bruno Mareto

Os atendimentos online são tão eficazes quanto os presenciais para grande parte das pessoas.

Faz tempo a psicanálise e a psicoterapia são praticadas à distância de diversas formas - mesmo antes da internet, eram feitas por carta ou telefone em situações específicas. Diversas modalidades de psicoterapia online ou de intervenções basadas na internet já foram desenvolvidas ou estudadas mais a fundo e até incorporadas aos sistemas de saúde de alguns países, como Austrália e Escócia, porque tornam o tratamento mais acessível, tanto financeira como geograficamente.

É claro que, para algumas abordagens psicoterapêuticas que privilegiam mais o corpo ou o contato físico, pode haver algum impedimento na prática ou na continuidade do tratamento à distância. Também é verdade que, em alguns momentos e casos mais graves, o atendimento presencial é o mais indicado ou até necessário. E, além de questões mais técnicas, existem pessoas - pacientes e terapeutas - que simplesmente não se identificam ou não se adaptam ao tratamento feito pela internet.

Por outro lado, para as abordagens que privilegiam a fala, o discurso, a escuta - como a psicanálise -, os desafios e as diferenças que se colocam à distância são muito menores ou, como mostram algumas pesquisas, nem mesmo são notados na maior parte das vezes. Com as chamadas de vídeo e as mensagens em tempo real, é inegável que a presença no encontro online é mais que suficiente para grande parte dos casos.

Este é o ponto mais importante: existe presença no online, existe vínculo, relação terapêutica. A transferência (para a psicanálise) acontece, e isso é o mais fundamental para qualquer análise ou terapia ser possível.

Além disso, para muita gente, ir até o consultório requer esforço e é muito difícil - todos temos o direito de nos defendermos um pouco do processo analítico... Nestes casos, poder entrar numa sessão online quase que casualmente entre uma ou outra tarefa do dia-a-dia é um facilitador para começar uma análise, que fica um tanto disfarçada no meio dos compromissos, com aspecto de desimportante, até que alguma coisa “clica” (no melhor dos casos...).

Atendendo online desde antes da pandemia do COVID-19, percebo na minha prática que o vínculo e os efeitos das minhas intervenções são consistentes. A vida psíquica e a subjetividade dos analisandos muda sensivelmente, ou seja, é possível notar o desdobramento, o movimento e a reorganização de seus pensamentos, sentimentos, sintomas - é notável a mudança em suas vidas a partir da análise online.

A pesquisa sobre os atendimentos online deve continuar, mas é importante reconhecer e acolher esta prática como eficaz e presente, ou seja, ela está e continuará sendo praticada por muita gente. Por fim, vale dizer que os encontros presenciais no consultório também não escapam de pontos cegos, de impasses, e nem de des-ligamentos... Estas e outras resistências, bem como a virtualidade, são características da relação analítica (ou terapêutica).